Falta de diversidade na classe preocupa jornalistas

Falta de diversidade na classe preocupa jornalistas

A falta de diversidade entre os jornalistas foi uma das questões colocadas em cima da mesa no 5.º Congresso dos Jornalistas, que decorre em Lisboa, com moções que apontam a representatividade na classe como um dos motivos para problemas na relação com o resto da sociedade.

Uma moção – dos jornalistas Filipe Santa-Bárbara, Joana Reis e Sara Rocha – pede um debate sobre ausência de diversidade nas redações portuguesas enquanto a proposta da jornalista Aline Flor quer uma discussão da representação feminina nas redações.

Joana Reis admite que é necessário discutir falta de diversidade no setor. “Como estamos dentro da redação, muitas vezes não percebemos a nossa própria realidade”, reconhece a jornalista da TSF. No seu entender, a mudança só terá início “quando os jornalistas exigirem às redações que abram mais as portas” também a profissionais de setores menos representados de modo a que olhem para a sociedade como um todo.

“A falta de representatividade nas notícias contribui para a manutenção de estigmas e a invisibilidade de minorias, com impacto na cobertura jornalística que, muitas vezes, não revela a riqueza e a complexidade da sociedade portuguesa”, pode ler-se na moção, que propõe a criação de grupos de trabalho que analisem a representatividade nas redações, discutem com minorias para identificar lacunas na cobertura e um apelo a uma maior diversidade interna.

Na sua moção, Aline Flor defende “a inclusão das dimensões de género” nas discussões da classe, “a promoção da transparência salarial nas redações, tornando as disparidades mais visíveis” e a “criação de um grupo de trabalho sobre igualdade de género na profissão, que faça uma recolha e desagregação de dados e o planeamento de ações concretas”, entre outras matérias.

Apesar de considerar que os estereótipos são necessários para “perceber o mundo à nossa volta”, Carlos Camponez, docente universitário e vice-presidente do Conselho Deontológico dos Jornalistas, afirma que “se forem sempre as mesmas pessoas a fazer o mesmo trabalho, cria-se, inevitavelmente, uma visão uniforme, o que se reflete no conteúdo transmitido”.

Na sua opinião, a solução passa pelas próprias redações que devem procurar diversificar a sua representação social. O docente considera ainda que, apesar das assimetrias verificadas nas redações atuais, em que o “número de homens jornalistas é significativamente superior ao das mulheres”, mas “o sexo feminino já representa uma maioria entre os jovens na profissão”.

Jornalista da Delas, Carla Bernardino concorda com estas preocupações. “A falta de diversidade nas redações” é generalizada e justificada pelo reduzido número de jornalistas. “Quanto menos pessoas nas redações, menos trabalho produzido e menos diversidade”, reforça.

Para a jornalista, quanto mais variada for a realidade de quem debate diariamente o alinhamento dos jornais, mais diversificada será a informação e retrato geral das sociedades. “Se os recursos não forem tão reduzidos, as redações conseguem ter mais uma ou duas pessoas que trazem pontos de vista diferentes da sociedade e contribuem para a diversidade das redações”

As opiniões quanto à diversidade nas redações são tendencialmente uniformes na comunidade jornalística. O jornalista da RTP João Rosário defende que não existe “diversidade na redação, nem nos conteúdos que representam o ‘ser português’”. Existe uma ideia generalizada de que os jornalistas portugueses são necessariamente “pessoas brancas europeias”, o que não leva em conta o enorme salto de imigrações que aconteceu no país nos últimos 40 anos.

“Há um problema de representação. Os portugueses imigrantes não se sentem representados no jornalismo do país”, sublinha. João Rosário alerta ainda para o surgimento de novas alternativas ao jornalismo mainstream entre as comunidades imigrantes. Estas alternativas tratam “assuntos que têm a ver com estas comunidades imigrantes e não são representados”.

Por: Letícia Oliveira | Universidade do Minho, Luciana Matos | Universidade do Minho e Gonçalo Moreira | ISCSP
Fotografia: Diana Cunha | Universidade Lusófona do Porto