Congresso aprova greve geral: “Está na hora de parar”

Congresso aprova greve geral: “Está na hora de parar”

Após discussão entre os congressistas, a moção que foi aprovada retirou a menção a uma paragem durante o período eleitoral da proposta original. Esta é a redação que foi aprovada.

Há anos que tentam partir a espinha do jornalismo e dos jornalistas. O descalabro e o nível de destruição a que assistimos nos últimos meses pôs a nu, e da pior forma, a gravidade das condições de exercício do jornalismo em Portugal. Mas não começou com a destruição do Global Media Group. A crise está entranhada em todas as redações.

Somos desconsiderados desde o momento em que pomos os pés numa redação. Vivemos eternamente com baixos salários, somos precários, forçados a fazer longos turnos, a grande maioria sem receber horas extra. Somos pressionados por todos os lados, somos agredidos e temos cada vez menos voz. Tentam-nos dividir, mas há um momento em que temos, coletivamente, como classe profissional, de fincar o pé. Esse momento é aqui e agora. Não aguentamos mais, temos cada vez menos a perder.

Camaradas, tentemos salvar o que ainda pode ser salvo.

No momento em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, ouvimos à boca cheia que o jornalismo é essencial para a democracia. Vários disseram aqui, neste Congresso, que o momento é muito grave para o Jornalismo. Ora, para momentos muito graves, gestos consentâneos. Gestos que começam em cada um de nós. O 25 de Abril não se fez sem valentia, ousadia e grandes doses de risco e sacrifício individual.

Sabemos que é impossível, mas todos os dias, por redações pelo país fora, milhares de jornalistas tentam fazer o impossível. Fazem-no à custa do seu descanso, da sua saúde, das suas famílias, dos seus amigos e, sobretudo, do seu futuro. Com redações cortadas pela metade, com os jornalistas com décadas de experiência afastados, com a memória a perder-se, com os mais jovens a submeterem-se a brutais sacrifícios ou a desistirem antecipadamente da profissão.

O momento é aqui e agora. Temos de PARAR. Simplesmente parar. Exigir que finalmente nos ouçam. Deixar de dar notícias, de fazer diretos, abandonar as redações e as conferências de imprensa. Não metermos jornais nas bancas, não darmos notícias nas rádios, não transmitirmos o telejornal, não publicarmos nas redes sociais. Mostremos o quão necessário é o nosso trabalho. Caminhemos juntos sem deixar ninguém para trás. Empurram-nos para o escuro, mostremos o que é o escuro por um dia. Para que se perceba o que é viver sem notícias, o impossível da democracia: não haver informação. Parar também para refletir sobre o jornalismo que andamos, ou não, a fazer.

Avancemos para a greve geral. Propomos ao V Congresso de Jornalistas:

  1. Mandatar o Sindicato de Jornalistas (SJ), coordenando-se com outras estruturas sindicais do setor, para que convoque um dia de greve geral. Por salários dignos, pelo fim da precariedade, por melhores condições para o exercício da profissão. Em suma, em defesa da dignidade do Jornalismo;
  2. Criar um grupo composto pelo SJ, pelo presidente do V Congresso dos Jornalistas e pelos signatários da moção, que definirá a data e o caderno reivindicativo, bem como as ações de preparação e mobilização, fazendo ligação com os órgãos representativos dos trabalhadores e toda a classe, uma grande parte a trabalhar fora das redações;
  3. Organizar, em simultâneo com a greve, uma manifestação nacional que expresse publicamente o descontentamento e as reivindicações da classe.

Proponentes:
Ana Luísa Rodrigues Ricardo Cabral Fernandes Nuno Viegas
Luís Filipe Simões
Subscrevem as três moções que originaram esta:
Ana Patrícia Silva João Biscaia
Ruben Martins
Sofia Craveiro
Ana Cristina Pereira
Rita Pereira Carvalho Claudia Carvalho Silva Bernardo Afonso Margarida David Cardoso Carolina Amado
Mariana Durães
Sofia Neves
Miguel Dantas
Joana Moreira
Cristiana Faria Moreira Marta Leite Ferreira
Inês Linhares Dias
Marta Silva
Diana Andringa
Teresa Serafim
Ana Adriano Mota Sandra Reis
Hélio Carvalho
Pedro Miguel Santos
Rita Murtinho
Ana Ribeiro Rodrigues
Tiago Carrasco
Luís Filipe Simões
Flávia Brito
André Sá
Mariana Marques Tiago Henrique Pinto de Mesquita Ana Bacelar Begonha
Maria João Guimarães Pedro Crisóstomo
Andreia Sofia da Silva Raquel Martins
João Miguel Rodrigues Isabel Venceslau
Sara Figueiredo Costa Susana Torrão
Rui Miguel Serralha
Ana Leiria
Sílvia Maia
Luís Reis Ribeiro
Ana Ribeiro Rodrigues
E o Sindicato dos Jornalistas

Por: 5.º Congresso dos Jornalistas