Desafios futuros (e presentes) da classe

Desafios futuros (e presentes) da classe

Paulo Pena, um dos fundadores da Investigate Europe (IE), e Stefan Candea, fundador e coordenador da European Investigative Collaborations (EIC), subiram ao palco do 5.º Congresso dos Jornalistas para refletir os problemas da profissão e as possíveis soluções para os resolver. A falta de qualidade, a distância ao público, a dificuldade de acesso à informação e os modelos de financiamentos “insustentáveis” foram alguns dos tópicos em discussão.

“Estamos a tornar-nos no que queremos combater? Estamos a fazer jornalismo para uma pequena elite e não para uma maioria de não privilegiados?”, interroga Paulo Pena. O jornalista questiona ainda de que forma podemos fazer com que pessoas sem hábitos de leitura e distantes do jornalismo acreditem que o nosso trabalho é importante.

Segundo Paulo Pena, a ligação entre os assuntos que foram debatidos ao longo dos últimos três dias e a perspetiva do que se quer fazer no futuro é o principal desafio que enfrentamos. Nesse sentido, acredita que é preciso resolver como o jornalismo se deve apresentar e que os jornalistas devem entender o que os levou a escolherem esta profissão que dá voz a quem não a tem.

Stefan Candea mostra-se descontente com o estado atual da profissão, “não há jornalismo de qualidade e as pessoas vêem-no”, refere. Numa opinião que considera ir contra a maré, o coordenador da EIC defende que o jornalismo não teve uma era de ouro no passado, não tem no presente e não vai ter no futuro.

A falta de tempo e de dinheiro, o não acesso/ dificuldade de acesso à informação, a necessidade de lutar por legislação que nos proteja e a violência são, para Stefan Candea, os desafios mais importantes do jornalismo, no futuro e no presente.

“Existe um loop das coisas negativas que acontecem no jornalismo”, reforça. Por conhecer em primeira mão a realidade dos media na Roménia, lamenta a não existência de meios de comunicação social independentes no país, seja financeira ou politicamente.

Falhas que podem ser soluções

A falta de um modelo de sustentabilidade para o jornalismo de investigação, que tem um ritmo mais lento, obriga à procura de outras formas de financiamento, como as doações e linhas de financiamento filantrópicas. Assim, numa perspetiva mais esperançosa, Paulo Pena pensa que a forma como a comunidade internacional de jornalismo de investigação faz jornalismo pode trazer mudanças para os “modelos insustentáveis” dos meios mainstream.

O espírito crítico característico do jornalismo de investigação também se mostra fundamental nas redações mainstream, menciona Paulo Pena. O jornalista não deixou de tecer críticas aos mecanismos de clickbait e aos modelos de publicidade e vendas que favorecem os interesses económicos e a direita radical. “É importante que haja a capacidade de resistir e dizer não”, esclarece.

Stefan Candea, apesar de menos esperançoso, partilha da visão de Paulo Pena de que a solução parte dos jornalistas e não da indústria dos media. O coordenador da EIC não acredita que o jornalismo está a salvar a democracia, mas que está a construí-la. Por esse motivo, pensa que os jornalistas devem procurar onde a sociedade se está a tornar politicamente ativa, pois nesses locais estão as oportunidades, que os levam a compreender o que é jornalismo.

“Não podemos ter um jornalismo saudável sem uma sociedade politicamente interessada, o jornalismo não vai carregar a bandeira de salvação da sociedade sozinho, temos de nos unir e mudar as normas”, reitera Stefan Candea. Por fim, defende que o ensino do jornalismo das universidades deve mudar, tornando-se mais prático.

Por: Daniela Fazendeiro | Universidade de Coimbra
Fotografia: Iris Moreno | Instituto Politécnico de Tomar