Diana Andringa: “Não somos passadores de recados”

Diana Andringa: “Não somos passadores de recados”

Os jornalistas devem cumprir com a responsabilidade deontológica da profissão, mas não esquecer o lado humano. A mensagem foi deixada aos profissionais, na sessão “(Auto) Censura – Novas formas, velhos hábitos”, que colocou esta sexta-feira as jornalistas Diana Andringa, Mirna Queiroz e Maja Sever a falar sobre a liberdade de imprensa em Portugal, no Brasil e na Europa.

A limitação de caracteres, a velocidade imposta na escrita de notícias e as redações sem pessoas, que impedem a prática do “exercício de dúvidas” entre colegas, inerente ao jornalismo, são uma forma de censura destacada por Diana Andringa. “Não somos passadores de recados”, afirmou a oradora que condena a ausência de liberdade dos jornalistas para pensar sobre o que escrevem. Como consequência, acrescentou, o público está incapaz de refletir sobre as várias informações que lhe chegam a toda a hora. Diana Andringa apelou a um trabalho jornalístico mais humano, sublinhando que o “respeito pelo cidadão é uma condição prévia para se ser jornalista”.

Diana Andringa

Mirna Queiroz refutou o termo “auto-censura” que associa a medo e sugere aos jornalistas que exerçam uma “auto-vigilância” da responsabilidade deontológica. A jornalista brasileira considera não ser justo os jornalistas estarem sozinhos na luta contra a censura e pela liberdade de imprensa, frisando que a sociedade tem de intervir juntamente com os profissionais.

Maja Sever, presidente da Federação Europeia dos Jornalistas (FEJ), confessou ter sofrido censura durante toda a carreira. A jornalista croata pede um jornalismo mais “humanitário” e relembra a importância das condições laborais para o exercício livre da profissão: “Os jornalistas não podem ser livres se não tiveram dinheiro”.

 

De acordo com a presidente do FEJ, a transparência sobre a detenção dos órgãos de comunicação social é uma das medidas garantidas pelo “European Media Freedom Act”, que promete trazer soluções no âmbito da independência face à pressão política e da sustentabilidade financeira dos média públicos.

A pedido do público do Congresso, o moderador e jornalista da RTP África, João Rosário, partilhou ainda a forma como a censura tem afetado o seu trabalho, exemplificando que, em momentos de alta tensão política, o governo da Guiné-Bissau corta a transmissão do canal público português.

Por: Matilde Sabino | Escola Superior de Comunicação Social
Fotografia: Ema Henriques | IADE