As pessoas “não gastam seis euros para a subscrição mensal de um jornal”

As pessoas “não gastam seis euros para a subscrição mensal de um jornal”

O jornalismo, atualmente, é uma área que pode suscitar algumas dúvidas para quem pensa em ingressar neste mundo. Joaquim Fidalgo, um dos fundadores do jornal Público, com uma carreira que também inclui títulos como o Expresso e o Jornal de Notícias, afirma que quem gosta e deseja trabalhar na área deve fazê-lo: “Se tu queres mesmo ser jornalista, mais cedo ou mais tarde acho que acabas por ser”.

Quando Joaquim Fidalgo fundou o jornal Público, em 1990, “o ofício era o mesmo”, comparativamente com o jornalismo do agora. Porém, as ferramentas e o ritmo de trabalho, assim como o rigor, são completamente diferentes, admite o professor e investigador da Universidade do Minho.

A situação atual do jornalismo é “complicada” graças a diversos fatores. Na perspetiva de Joaquim Fidalgo, o modelo de consumo das gerações mais novas é um dos mais gritantes, visto que “há muitos jovens que nunca pegaram num jornal e nunca vão pegar”.

A falta de valorização e de aposta no bom jornalismo por parte dos cidadãos portugueses desanima o fundador do Público, pois acredita que “são capazes de gastar 20 euros para comprar uma garrafa de vinho, mas não gastam seis euros para a subscrição mensal de um jornal”.

No 5º Congresso dos Jornalistas, Joaquim Fidalgo foi um dos conferencistas no painel sobre “O papel do Estado”. Apresentou um cenário de estratégias que diferentes países têm vindo a adotar para financiar o jornalismo. Neste contexto, partilhou possíveis soluções que podem ajudar a salvar o jornalismo, desde o Estado a financiar 35% do ordenado dos jornalistas, como acontece no acontece no Canadá, até a um modelo cooperativo, desenvolvido em Itália.

Em entrevista à Redação do 5º Congresso dos Jornalistas, Joaquim Fidalgo apresentou a diversificação de produtos como uma possibilidade, que visa apresentar mais opção e distribuição de conteúdos para que os jornais não tenham tanta informação acumulada. A organização fará com que o consumidor tenha mais vontade de comprar. “No fundo, os meios de Comunicação hoje em dia estão obrigados (entre aspas) a encontrar maneiras alternativas, e criativas até, de aumentar a rentabilização dos dados que armazenaram  e, com isto, tentarem também criar produtos atraentes para as pessoas. Portanto, trata-se de arranjar maneira de aumentar as receitas e de não ser só diminuir os custos”.

Por: Irene Valadares | IP Tomar
Fotografia: Melissa Dores | IP Coimba