“Não é porque o artigo aborda questões de marcas e produtos que deixa de ser jornalismo”

“Não é porque o artigo aborda questões de marcas e produtos que deixa de ser jornalismo”

 

A linha cada vez mais ténue que separa o jornalismo da publicidade colocou em confronto as opiniões de Licínia Girão e João Paulo Menezes. Num dos últimos debates que marcaram o 5º Congresso de Jornalistas, as queixas são muitas e as respostas insuficientes.

 

“Algumas publicações nos órgãos de comunicação social não têm cariz jornalístico”, declarou a presidente da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas. Licínia Girão admite que “a lei de imprensa tem algumas falhas” e que “os jornalistas não são pessoas ao serviço de um órgão predominantemente comercial ou publicitário”.

 

No decorrer da sessão, e perante os olhares curiosos dos que assistiam, a presidente da CCPJ referiu uma possível solução para os problemas de ética que surgem atualmente no debate público: a criação de uma “Carteira Cor de Rosa”. Esta solução permite que os jornalistas não tenham de cumprir, nem alterar / adaptar o artigo 3.º, do Estatuto do Jornalista (Lei n.º 1/99), apenas a “parte da ética e deontologia”. Licínia Girão reconhece que “ às vezes os jornalistas produzem certos conteúdos, sem saber que estes são patrocinados” e acrescenta “todas estas matérias devem estar devidamente assinaladas”.

 

O vice-presidente do Conselho Deontológico dos Jornalistas, Carlos Camponez, explica como funciona o processo de regulação dos média em Portugal. Qualquer órgão de comunicação jornalístico tem de ser aprovado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Contudo, a Comissão para a Carteira Profissional pode não reconhecer os profissionais que trabalham nestes órgãos como jornalistas. Casos como o da revista Time Out são uma das consequências.

 

“Não é porque o artigo aborda questões de marcas e produtos que deixa de ser jornalismo”, defende João Paulo Menezes, presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CDSJ). No entanto, reitera que estas questões devem ser “vistas caso a caso” e, fazendo referência ao ao órgão noticioso Time Out, sublinha que “não se pode generalizar e dizer que o jornalismo lifestyle não é jornalismo”.

 

O debate encerrou com as queixas e questões de alguns jornalistas aos três representantes dos órgãos de regulação dos média portugueses. 

Por: Verónica Freitas | Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e Luciana Matos | Universidade do Minho
Fotografia: Melissa Dores | Instituto Politécnico de Coimbra