Gratuitidade da Lusa e financiamento pelo Estado dividem opiniões

Gratuitidade da Lusa e financiamento pelo Estado dividem opiniões

A pressão sobre as receitas, lucros e sucesso dos conteúdos produzidos nas redações, foram alguns dos tópicos evidenciados no debate sobre “Financiamento do jornalismo de imprensa e online”, que dominou a tarde do terceiro dia do 5º Congresso dos Jornalistas.

Reconhecendo o “abanão” provocado na imprensa escrita com a chegada do digital, Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias, destacou a falta de investimento exterior que já acontece há muito tempo, referindo que “se nem os resultados positivos nos protegem, há uma forte reflexão que devemos fazer”.

A ideia de Inês Cardoso foi corroborada por David Pontes, diretor do jornal Público, que concorda que “é preciso recuperar muito caminho perdido” no que diz respeito ao espaço que a internet está a conquistar. Quanto à gestão e receção de recursos, salienta que “quanto melhor estivermos em termos financeiros, melhor jornalismo conseguimos fazer”.

O painel evidenciou os diferentes moldes de financiamento dos órgãos de comunicação. Apesar de uma grande fatia do financiamento da Agência Lusa ser público, a sua diretora, Luísa Meireles, destaca como “traço distintivo” o facto de ser “o único órgão de comunicação social que faz cobertura noticiosa em todo o país”.

A jornalista vai mais longe e refere que “se não houvesse a Lusa, não havia comunicação social em Portugal” e que, mesmo tendo em conta o seu tipo de financiamento, “a Lusa também tem de pedalar muito no que diz respeito a receitas próprias”.

Por sua vez, o diretor do Correio da Manhã, Carlos Rodrigues, que transitou do grupo Cofina, atualmente designado Médialivre, ao contrário dos parceiros de painel, sente que o grupo “está sub-representado no Congresso”, salientando ainda que “se houver a suspeita de que passa a ser o Estado a financiar o jornalismo, damos mais um passo em direção ao abismo”.

O representante do Correio da Manhã salienta ainda a relevância do jornalismo livre e lucrativo. “É evidente que o jornalismo para ser rentável tem de ser livre, e só é livre se for rentável”, sustenta.

Com o investimento recente na rádio, graças ao sucesso que o seu jornalismo online evidenciou, Miguel Pinheiro, diretor do Observador, afirmou que “procurar o lucro é um bom princípio numa empresa de comunicação social” e que o salto para o mundo da rádio se dá graças a uma vontade de chegar mais longe e de “não ficar parados”.

Miguel Pinheiro mostra-se ainda contra a ideia de uma partilha gratuita de conteúdos por parte da Agência Lusa, um tópico de forte incidência no plenário. O jornalista argumentou que “a Lusa gratuita vai matar os jornais mais frágeis”, levando, por consequência, a uma “uniformização da informação”.

Já João Vieira Pereira, diretor do Expresso, sinaliza uma série de estratégias erradas nos últimos 20 anos face à digitalização, devido a “erros de gestão enormes”. No que diz respeito ao financiamento do jornalismo de imprensa, este responsável considera que “o financiamento público tem de passar pela criação de emprego” e que há uma forte incapacidade de comunicação entre os diferentes órgãos.

“Passamos a vida a roubar conteúdo uns aos outros. Deixar a guerra de audiências de lado, sentarmo-nos e fazermos uma autorregulação é fundamental”, defendeu.

Por: Rodrigo Maurício | Instituto Politécnico de Portalegre
Fotografia: Diana Cunha | Universidade Lusófona (Porto)