Ruben Martins: Pela valorização do papel do estagiário nas nossas redações

Ruben Martins: Pela valorização do papel do estagiário nas nossas redações

O acesso à profissão é assegurado através de um estágio, mas o papel do estagiário é cada vez mais débil numa profissão onde a falta de recursos resulta na falta de acompanhamento das novas gerações, com graves consequências no resultado do período de estágio e na integração posterior numa redação.

Com o degradar das condições de exercício da profissão, pode parecer desnecessário ou até supérfluo pensar nas precárias condições oferecidas a quem tenta iniciar-se no ofício de jornalismo. Mas não é.

É importante realizar um diagnós.co prévio: um estagiário assume cada vez mais a função de suprir lacunas que não deviam existir nas nossas redações. O período de aprendizagem acaba por ser altamente limitado, já que o acompanhamento que é dado aos profissionais nos primeiros anos de exercício tende a ser cada vez mais escasso e a pressão que lhes é colocada é altamente condicionante do seu rendimento.

Em redações que vivem em mínimos, uma polí.ca a.va de integração de novas gerações é cada vez menos comum, assim como a ausência de um acompanhamento que permita ao jovem jornalista ter um processo de aprendizagem mais proveitoso. Há também redações que fomentam uma elevada rotatividade de estagiários sem a mínima intenção de os integrar como novos trabalhadores. A somar a esta realidade, há órgãos de comunicação social que têm por prá.ca não deixar os estagiários assinar os seus trabalhos. A assinatura de um jornalista é uma marca de responsabilidade e um pilar essencial nesta profissão, para além do papel que tem nesta fase da carreira como comprova-vo do trabalho realizado.

No final do período de estágio é também comum uma ausência de feedback dado ao estagiário sobre o seu trabalho e sobre perspetivas de futura integração na redação.

Feito o diagnóstico é importante olhar para o presente: os cursos que formam profissionais em Ciências da Comunicação têm cada vez menos interessados em seguir a carreira de jornalista. E até mesmo nas licenciaturas que têm jornalismo no nome, o sonho do jornalismo é cada vez mais distante. Estamos a caminhar para uma situação perigosa onde a renovação geracional pode estar em risco no médio e longo prazo,
repetindo uma dinâmica já observada na carreira dos professores.

Pode parecer pouco credível tendo em conta o excesso de diplomados face à oferta existente, mas a realidade dos nossos Politécnicos e Universidades é a de um maior afastamento dos jovens face a esta profissão, desencantados com os baixos salários, poucas oportunidades, fraca progressão e cada vez menor crédito social atribuído aos jornalistas.

É importante valorizar a profissão e valorizar os profissionais de amanhã. Sem uma correta integração que permita a convivência e transmissão de conhecimento entre gerações, a memória e o futuro das nossas redações está mesmo em causa.

Como classe, devíamos juntos rejeitar quatro coisas:
– Que seja negado ao estagiário a possibilidade de assinar os seus trabalhos.
– Estágios sem qualquer .po de remuneração (o subsídio de alimentação deverá ser
sempre pago).
– Ausência de acompanhamento dos estagiários.
– Utilização continuada de estagiários para colmatar necessidades permanentes.

Temos muitos problemas como classe, mas garantir que não criamos uma geração de
jovens jornalistas frustrados e desencantados com a profissão tem de ser um desígnio
de todos, sob pena do jornalismo se tornar numa profissão em risco de extinção.