Nuno Viegas: Por um registo de interesses público de jornalistas

Nuno Viegas: Por um registo de interesses público de jornalistas

Boa tarde, camaradas.

Todos devemos estar conscientes da necessidade de assumir e publicitar os nossos conflitos de interesses. Termos como regra indicar as ligações pessoais às histórias que cobrimos, revelar os interesses que mantemos, e explicar as nossas subjetividades, promove a confiança no trabalho jornalístico. É consistente com a cultura de transparência que exigimos a quem nos cabe escrutinar.

Mas não há, para o público, um local onde se possa consultar os registo de interesses de jornalistas. Falta uma base de dados onde possa eu explicar, caso vá fazer jornalismo local, que a minha prima Barbara é presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, eleita pelo Partido Socialista. Ou, antes de noticiar como José Neves lida com os despedimentos na Farfetch, explicar que já eu, noutros tempos, antes de ter carteira, fui pago pela Fundação José Neves para editar áudio.

Assumirmos esses cruzamentos não é aceitar um clima de desconfiança permanente. Não é assumir que estamos vendidos aos nossos gostos pessoais, ou que somos movidos por quem já nos pagou salário, ou deixou de o pagar. Promover a literacia mediática é também dar ao público as ferramentas para conhecer quem publica notícias, e ver – pela sua abertura – que não há sombras por cima das redações.

Portanto proponho, para aprovação por voto do V Congresso:

– Que se indique à Comissão da Carteira Profissional do Jornalista o desejo de criar junto desta um registo de interesses centralizado, em que cada jornalista possa inscrever voluntariamente a informação sobre as suas ligações laborais, familiares, políticas e associativas que considerar relevantes.

– E que se incentive agora o início de um debate sobre a futura existência de um registo de interesses de preenchimento obrigatório para a atribuição e renovação da Carteira Profissional de Jornalista.

Obrigado.