Ricardo Alexandre: como a TSF e outros meios de comunicação do Global Media Group são importantes para a democracia

Ricardo Alexandre: como a TSF e outros meios de comunicação do Global Media Group são importantes para a democracia

Dados sobre o grupo que detém a TSF e procura matar a rádio que mudou a Rádio. E como a TSF e outros meios de comunicação do Global Media Group são importantes para a democracia. Ou como a sua tentativa de aniquilação representa um perigo democrático no ano em que comemoramos meio século de vida em liberdade. No fundo, esta, sendo uma comunicação sobre a TSF, acreditamos que possa ser entendida como uma comunicação sobre nós. Todas e todos.

Camaradas,

Quando estiver a ser lida no Congresso, esta comunicação ao Congresso dos Jornalistas já terá sido revista uma e outra vez, desde logo porque podem os acionistas da nossa empresa não ter seguido a sugestão do SJ de demitir o CEO José Paulo Fafe e este pode muito bem ter continuado, a ritmo quase diário, a causar danos reputacionais (logo, também, financeiros) à TSF e a várias marcas do Global Media Group (GMG). Em 3 meses, a rádio que mudou a Rádio em Portugal e dois jornais centenários que produziram sempre informação rigorosa, ajudando a consolidar a democracia, mais um diário desportivo e várias revistas, passaram a ser referência pelos piores motivos, com a entrada no capital do grupo Global Media, como accionista maioritário, do World Opportunity Fund, sediado nas Bahamas, sobre o qual pouco se sabe e sobre o qual o CEO José Paulo Fafe recusa revelar identidades e prestar declarações ao próprio parlamento. Sabemos que o fundo de investimento World Opportunity detém 51% do capital social da Páginas Civilizadas, a qual controla, diretamente e indiretamente, 50,25% da Global Media e 22,35% da Lusa. E sabemos mais algumas coisas que serão certamente tratadas em sede própria, que não as Bahamas.

Recordamos: o GMG é um dos maiores grupos de Media a atuar em Portugal. Está presente nos setores da Imprensa, Rádio e no digital, possui pelo menos, 15 marcas de referência, como a TSF, o JN, o DN, o Jogo, o Dinheiro Vivo, o Delas, o Motor 24, a N-TV,a Evasões, a Volta ao Mundo, a Notícias Magazine, a Men’s Health, a Women’s Health e ainda, o Açoriano Oriental e o Diário de Noticias da Madeira. Nos últimos cinco anos, saíram da rádio mais de trinta jornalistas, técnicos e animadores, saídas ‘compensadas’ com apenas cerca de uma dezena de novas entradas.

A estes títulos do grupo, os novos accionistas juntaram e criaram o site “É Brasil” e registaram-no como propriedade da GMG em setembro de 2023, sem que este tenha sido previamente anunciado e/ou apresentado a ninguém do grupo numa fase em que, a acreditar no discurso da administração, a empresa já estaria com dificuldades financeiras.

Ainda em setembro, o novo conselho de administração da GMG nomeou novas direções em redações como a TSF depois de ter exonerado a anterior, apesar do protesto unânime da redação e perante, a Comissão Mista (constituída por representantes dos trabalhadores da rádio) o Conselho de Administração afirmou desconhecer propostas de aumentos salariais aprovadas pelo anterior conselho de administração do qual continua a fazer parte Marco Galinha.

A vontade de investir nos meios do grupo, manifestada aquando da entrada em funções do novo conselho de administração, durou pouco. Em menos de 3 meses, fazem-nos crer que auditorias (desconhecemos quem as fez e com que capacidade para o fazer, já que a opacidade é marca identitária desta administração do fundo que nos leva ao fundo) revelaram um buraco nas contas capaz de levar o grupo à falência.

Mas um dos accionistas, e presidente do Conselho de Administração, que continua a ser Marco Galinha, CEO do Grupo Bel, que em setembro previa, de acordo com o jornal Eco, “uma faturação de 660 milhões e um lucro de nove milhões no próximo ano”. Os responsáveis da empresa recusam, até à data de entrega desta comunicação, prestar contas, apesar dos insistentes pedidos da Comissão de Trabalhadores da TSF. Desde então, temos assistido a um chorrilho de desgraças traçadas pelo especialista em marketing político, que encabeça a comissão executiva da administração, o sr. José Paulo Fafe em diversos jornais, fora do grupo.

Camaradas,

Como sabem está em causa o desmantelamento de marcas de referência no sector da comunicação em Portugal. Marcas que dão lucro como o JN ou que quase estão nesse patamar como O Jogo, ou como a TSF, cujos resultados negativos directamente imputáveis ao exercício da sua actividade, não seriam de especial monta, num ano de guerra e do esforço financeiro que tal implicou.

Na GMG, está em perigo o futuro de 500 profissionais e suas respetivas famílias, porque não são apenas os 150 a 200 (que não sabemos quem serão) que sofrem com a ameaça de despedimento coletivo. Todos estamos a sofrer com a situação.

Os trabalhadores mobilizaram-se. Fizeram greve, manifestações, pediram audiências a governo, grupos parlamentares, foram ouvidos em comissões da Assembleia da Republica, mas o problema está longe de estar resolvido.

O fim destes meios de referência, marcas fortes do jornalismo em Portugal, é lamentável para os seus profissionais, mas também para um país que assiste a um verdadeiro atentado ao jornalismo livre e independente, no ano em que se comemora os cinquenta anos da Revolução que nos devolveu a Liberdade.

Não estamos sozinhos nesta luta. E estamos solidários com todos os trabalhadores e, em especial, com todos os jornalistas d’A Bola, acompanhamos também com preocupação o que se passa na Visão, por exemplo. E esperamos que as rescisões noutros meios onde estão a acontecer sejam efetivamente amigáveis.

É também urgente um plano de ação do estado no reforço da regulação, bem como na supervisão e aprovação de processos de compra e venda de órgãos de comunicação social, garantindo que a natureza dos seus detentores não possa pôr em causa a própria natureza da profissão. Todos sabemos que não há jornalismo livre e independente com profissionais precários, mal remunerados ou até, como nos aconteceu em dezembro, não remunerados.

Os jornalistas e trabalhadores da TSF pedem ao congresso que reconheça e aprove em moção a sair desta reunião magna, que, sem a TSF, o pluralismo e a democracia em Portugal estão ameaçados.

Na TSF ultrapassámos já a fase de alarme. Mas como diria um antigo camarada do Jornal de Notícias, um dos maiores das letras deste país, “Ainda não é o Fim nem o princípio do mundo, calma, é apenas um pouco tarde”. Saudamos a memória de Manuel António Pina e vamos lá tratar de recompor isto antes que o tarde seja tarde demais.

A luta continua, jornalistas para a rua.

Não despedidos por um fundo sem bom fundo, mas sim para a rua para fazer reportagem. Até ao fim da rua e até ao fim do mundo.