Falta de união como principal motivo para problemas de saúde mental na classe
Luís Filipe Simões, presidente do Sindicato de Jornalistas, conta a sua experiência pessoal de lidar com um esgotamento e a realidade que testemunhou, pela voz dos profissionais que pediram ajuda. Na opinião do sindicalista, os casos de doença mental nos jornalistas são transversais a todas as redações e o principal problema é a falta de união da classe.
Perante o relatório “Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal”, publicado em 2023, Luís Filipe Simões declara que, se o estudo fosse realizado hoje, “os resultados seriam aterradores”. O jornalista atribui a responsabilidade do aumento de casos de esgotamento ao caso do grupo Global Media, que diz ter “espalhado o medo nos jornalistas”. Por outro lado, denota que a situação que levou ao despedimento de cerca de 150 trabalhadores gerou, também, uma onda de solidariedade, a primeira que experienciou no decorrer da sua carreira.
De um ponto de vista pessoal, o presidente do sindicato refere ter chegado a uma fase de extremo cansaço e rutura, pelo que simpatiza com os colegas que passaram pela mesma situação: “achamos que estamos ótimos, foi só mais um dia na redação e foi só mais um dia a sair de manhã de casa e a chegar à noite”. Na perspetiva de Luís Filipe Simões, “muitos jornalistas estão em burnout, resistem e não identificam o problema”.
O jornalista acredita ainda que o esgotamento é em grande parte motivado pela frustração de, apesar de uma luta constante, os trabalhadores não encontrarem boas condições de trabalho. “Os jornalistas pedem só uma coisa: boas condições de trabalho”, urge. Tal como referido no estudo, o assédio e a pressão por parte da administração e entidades no poder são dois dos principais potenciadores de um esgotamento, elencados em entrevista por Luís Filipe Simões.
A par destas razões, uma das preocupações que serviu de palco a várias discussões promovidas no V Congresso dos Jornalistas, tem que ver com os problemas de regulação da profissão. “Tenho um conflito ético muito grande e sinto que não tenho apoio com os meus dilemas éticos”, exemplifica Luís Filipe Simões. Estas nuances originam uma carga emocional e psicológica nos trabalhadores, que o jornalista nomeia de muito violenta.
Como principal problema e tentativa de resolução, Luís Filipe Simões aponta a falta de companheirismo entre jornalistas: “nem sempre estivemos unidos na defesa de um bem que não é nosso, é das pessoas, que é o jornalismo”. Para o futuro, o presidente do sindicato deixa uma mensagem de apelo, em nome dos profissionais a ultrapassar problemas de saúde mental: “não sei se vamos conseguir que a luta nos leve a sermos uma profissão de desgaste rápido, o que eu sei é que as pessoas vão estar despertas e nós temos de exigir apoio para tratar da nossa saúde mental”.