O testemunho de Rúben Martins: as consequências de uma paixão desmedida
Rúben Martins começou por trabalhar como jornalista assim que terminou a licenciatura, são já sete anos de profissão. À paixão pelo jornalismo e pela redação juntou a paixão pelo ensino em sala de aula, a lecionar em Lisboa e Abrantes. Tudo isto conjugado com um doutoramento, recentemente concluído, aos 28 anos, resultou num esgotamento.
“Sou muito feliz no que faço, mas tenho a perfeita noção que trabalho muito mais horas do que aquelas que devia trabalhar e isso depois tem consequências para a minha saúde, para o meu estilo de vida e em termos pessoais”, testemunha. O jovem que passou por um esgotamento durante o início de carreira, mantém a paixão pelo jornalismo e é, hoje, um exemplo para os estudantes de comunicação ainda em formação.
A paixão pela profissão é o seu principal motor. No entanto, conhece as possíveis consequências que o trabalho excessivo pode ter na saúde mental: “nesta altura abdiquei disso pela minha carreira”.
O jovem jornalista reconhece que, para o seu próprio bem, não deveria ter aceitado todas estas funções ao mesmo tempo, mas não pode deixar de mostrar profundo agradecimento pelas oportunidades e votos de confiança que lhe deram. Ao mesmo tempo que aceitava novas tarefas, sentia-se a atingir o limite. “Temos de saber impor limites e que há uma altura em que deixa de ser suportável para qualquer ser humano”, declara.
Na redação, Rúben Martins está sempre atento aos sinais e à forma como ele e os colegas estão na profissão. O jornalista lembra que, neste ofício em especial, “há uma tentativa do próprio jornalismo de adiar o reconhecimento de um problema”. Considera ainda a questão do burnout no jornalismo como um problema em crescimento, causado pela falta de horários fixos, redações pequenas e com pessoas com muitas responsabilidades acumuladas, devido aos problemas da precariedade e dos baixos salários.
Apaixonado também pela docência, Rúben Martins denota uma principal preocupação com os mais novos que entram agora na profissão, que se reduzem já a um trabalho de mínimos, tal é a desmotivação. “Um jornalista, por ser curioso por natureza, por se oferecer sempre mais e melhor, não pode ficar só sujeito a um trabalho de mínimos”, exclama.
Hoje, ultrapassada a pior fase, reflete sobre a sua carga laboral: “apesar de, por vezes, me sentir sobrecarregado, acho que tenho o equilíbrio razoável entre aquilo que é o que me pedem no jornal e o que faço nas aulas”. Ainda assim, o jornalista identifica uma maior dificuldade na gestão do tempo pessoal e familiar.
O sentimento de devoção ao jornalismo sentido durante os quatro dias do congresso personifica-se em Rúben Martins, quando diz, emocionado: “quando me perguntam ‘Se pudesses escolher outra profissão, escolhias?’ eu continuo a dizer que não. A minha profissão é ser jornalista e é aqui que eu sou feliz”.