Jornalismo de proximidade, um velho problema

Jornalismo de proximidade, um velho problema

“Crise do jornalismo é global, mas é global há muitos anos no jornalismo de proximidade”, esta foi a frase que deu o pontapé de entrada, dado por Paulo Barriga, no painel dedicado ao jornalismo de proximidade.

Em prol da dignidade e solidariedade com os jornalistas, o Congresso dos Jornalistas tomou a iniciativa de percorrer o país à procura de ouvir os problemas e os desafios que a profissão enfrenta. Agora, alguns desses profissionais foram convidados a partilhar as suas experiências.

Desde o último Congresso, em 2017, o número de jornalistas com carteira profissional diminuiu significativamente, contrariamente ao número de órgãos de comunicação social, que têm vindo a aumentar. Paulo Barriga, jornalista freelancer, considera que este fenómeno é fruto de três fatores: a perda de publicidade que migrou para outras plataformas, a concorrência das autarquias locais que trabalham como “canais de propaganda sem escrutínio” e a falta de formação profissional acessível fora dos centros urbanos.

O orador sublinha que os meios locais são vistos como jornalismo de segunda classe, sendo os seus conteúdos jornalísticos utilizados pelos grandes órgãos nacionais, sem os devidos créditos e citações: “Utilizam trabalho de outras pessoas de forma descarada e sem qualquer tipo de escrutínio”.

Filipa Queiroz, diretora da Coimbra Coolectiva, um órgão de comunicação social independente, revela que trabalha no jornalismo de soluções a que chama de “ideias fixes de copiar”.

Um terço do país está sem cobertura jornalística e este fator tem tendência para aumentar. Pedro Jerónimo, investigador da Universidade da Beira Interior, alerta para a existência de desertos de notícias que permitem o surgimento de “pseudo meios jornalísticos”, como as redes sociais e páginas online de autarquias, que ganham visibilidade e geram, ainda mais, desinformação.

O pouco jornalismo local que ainda resiste vê-se obrigado a garantir a sua sustentabilidade, que é uma tarefa difícil e inacabada. Sandra Reis, diretora do jornal mensal açoriano O Baluarte de Santa Maria, revelou, no decorrer do painel “Este mundo e o outro”, que trabalha numa redação unipessoal. Quer isto dizer que todas as responsabilidades, desde a direção, administração até à limpeza, estão reunidas numa só pessoa, ela própria.

A já referida perda de publicidade gera uma perda de financiamento para o jornalismo local. Assim sendo, algumas das alternativas propostas ao longo de todo o painel passam pela ajuda de mecenas e pela tentativa de recorrer, sempre que lhes é possível, a fundos de apoio ao jornalismo.

No final das contas, a crise é um problema que antes estava longe, mas que afinal está aqui tão perto.

Por: Adriana Vitorino | ISCTE, Bruna Margalho | NOVA FCSH e Sofia Reis | ISCSP
Fotografia: Catarina Sousa | Universidade Europeia e Eva Sousa | ESCS