É urgente criar bolsas para o financiamento jornalístico

É urgente criar bolsas para o financiamento jornalístico

A necessidade e urgência de criar bolsas e Crowdfuding (financiamento coletivo) para o financiamento de investigação jornalística  foi o foco da intervenção de Micael Pereira, jornalista do Expresso, sobre a crise do financiamento dos media, um dos temas em destaque no 5.º Congresso dos Jornalistas. Micael Pereira, aproveitou o workshop “Como encontrar financiamento para reportagens e projetos jornalísticos?” para deixar algumas soluções.

Membro do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), como Panama Papers, Luanda Leaks e Pandora Papers, reconhece que, em  Portugal, “não há nada, absolutamente nada aberto (…). Ninguém tem tido a ideia de criar bolsas e, infelizmente, isso torna a situação um pouco difícil”.

O jornalista foi bolseiro da Pulitzer Center (EUA), Journalism Found Europe, Investigation Journalism for Europe e da Gulbenkian. Dada a sua experiência com autor do documentário “Black Trail”, que nasceu no âmbito da organização The European Institute of Cooperation e que reuniu colaboração de 7 países, freelancers e meios de comunicação internacionais, considera que as bolsas poderiam ser uma solução.

Contudo, Portugal está fora desta realidade. As bolsas de investigação da Gulbenkian acabaram depois de três edições, entre 2018 e 2020, e que ajudaram 30 jornalistas, um deles o presidente do Congresso, Pedro Coelho. Ao contrário da Europa, que tem linhas de financiamento que pagam estes projetos. No entanto, “há um problema básico, uma postura que coloca uma série de restrições do ponto vista da União Europeia”, que “não se quer intrometer, ou não quer influenciar práticas ou histórias de jornalismo que sejam nacionais, que sejam dentro dos estados. Não querem interferir internacionalmente nos estados”, acrescentou Miguel Pereira.

Quanto à questão do financiamento, debatida ao longo do Congresso, o jornalista vai mais longe e revelou uma lista de apoios que a organização Global Investigative Journalism Network promove para a produção de jornalismo de investigação. Bolsa internacionais, de especialidade, documentais ou subsídios para apresentação de relatórios são alguns exemplos dos apoios a que os jornalistas se podem candidatar.

“É tudo à volta do crowdfunding e projetos que envolvam organizações ou pessoas de vários países”. Desta forma, “neste universo, houve um tipo de jornalismo onde isto parecia encaixar como uma luva, que é o jornalismo de investigação”, assegurou. Isto porque “as grandes histórias de investigação que são complexas, não estão cerradas num país, são globais”.

Para tal, “há a necessidade de criar redes de colaboração”, que “podem ser feitas a partir de organizações e instituições. Mas também podemos colaborar com jornalistas de forma individual e criar essas redes de caso a caso, de acordo com a necessidade da história que queremos contar”.

Na visão de Micael Pereira, para ter financiamento para fazer reportagens, é preciso “construir projetos de reportagem a partir de uma perspetiva de jornalismo de investigação e a partir de uma perspetiva colaborativa”.

 

 

Por: Nádia Neto | Universidade do Porto
Fotografia: Melissa Dores | Instituto Politécnico de Coimbra