Diário de Notícias – uma luta que continua

Diário de Notícias – uma luta que continua

O Diário de Notícias continua com os salários em atraso e os trabalhadores alargam a luta pela sobrevivência do DN às páginas do jornal. Um jornal histórico que sempre trouxe notícias às pessoas torna-se agora a notícia e expressa na capa a sua preocupação.

Incluído no grupo Global Media Group, que abrange também o Jornal de Notícias, a TSF, O Jogo e outros, o DN encontra-se com os pagamentos dos trabalhadores em atraso. João Pedro Henriques, membro do Conselho de Redação do DN, fala-nos deste atraso, “não recebemos subsídio de Natal e já estamos quase com um mês de atraso. Isto, dá neste momento, mais ou menos um mês e vinte dias de atraso”.

A Global Media encontra-se com uma guerra de acionistas a acontecer que está a criar este problema, contudo, na quinta-feira passada, o DN recebeu uma novidade. João Pedro Henriques explica-nos esta alteração. “Um dos principais acionistas, Marco galinha, vendeu parte da sua quota a um fundo sediado nas Bahamas designado de World Opportunity Fund”, a razão invocada para tal não é “por questões de tesouraria, falta de dinheiro ou problemas bancários, mas que não pagava os salários porque não os queria pagar, alegando estar à espera de uma decisão da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, sobre a identidade dos titulares desse fundo”.

Acrescentou João Pedro Henriques que, enquanto a providência cautelar entregue pelo acionista Marco Galinha contra o World Opportunity Fund visando o arresto de bens não for retirada, não haverá pagamentos. O DN não podia ficar de braços cruzados, “Decidimos em conjunto com a direção do jornal, que é liderada por José Júdice, que a luta do DN pela sua sobrevivência também teria de acontecer na edição do jornal, e foi isso que aconteceu, esta capa hoje e parte do conteúdo do jornal reflete uma decisão do plenário de jornalistas tomada ontem”, diz-nos João Pedro Henriques.

A capa em causa, marcada por um ponto de interrogação a negro, contém a referida afirmação: “Nunca, no século e meio em que o Diário de Notícias foi uma constante na nossa vida, tanta incerteza se colocou aos que o fazem. Damos notícia todos os dias das dificuldades dos portugueses. É essa a nossa missão. A mais nobre missão de um jornal, mostrar a vida. As incertezas, mas as dos outros. Não somos notícia. Exceto agora. Há mês e meio sem salário, os jornalistas do DN decidiram formas de luta contra as incertezas do seu futuro. Mas com uma certeza: enquanto pudermos, manteremos vivo este jornal.”

Muitos são os jornalistas que se encontram sem qualquer tipo de pagamento e que continuam a lutar pelo DN. A inquietação do futuro do jornal deixa todos preocupados. Paula Sofia Luz, membro do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas, presente no terceiro dia do Congresso dos Jornalistas, diz “Mas o que agora está a acontecer é algo de novo, que exige muito mais resistência. Integro a fileira de trabalhadores a recibo verde, prestadores de serviços, colaboradores, da Global Media. Não vou falar-vos da ansiedade, da angústia de não receber a horas certas, do que é estar no fim da linha, mesmo fazendo primeiras páginas”. Para Paula Sofia Luz, jornalista freelancer colaboradora do DN, “esta capa numa palavra é brutal. Pelo impacto que causa na opinião pública e pelo que ela significa”.

Já Fernanda Câncio, também jornalista no DN, explica que “a ideia foi fazer uma capa alusiva à situação” do jornal e do grupo Global Media. Porque os salários em atraso são apenas a ponta de um iceberg mais profundo e este “é um problema que não é só dos jornalistas, é um problema muito mais vasto que tem a ver com o futuro do jornalismo e o futuro da democracia”.

A instabilidade que vivem nos dias de hoje, fez com que a luta tivesse de aparecer e ser reconhecida nas próprias páginas do jornal. Valentina Marcelino, delegada sindical do DN, afirma que pretendem “que esta capa fosse uma capa histórica, e foi decidido que o jornal tinha que ser utilizado também como forma de luta e forma de mostrar à sociedade em geral que o Diário de Notícias deve continuar a sua presença nas bancas”.

A redação desta capa era inevitável. Trabalhar sem receber é inadmissível e o direito dos trabalhadores do DN de tomarem medidas é evidente. “Se até ao dia 31 de Janeiro a situação dos salários não forem resolvidos, vamos avançar com um pré-aviso de greve por tempo indeterminado”, exprime Valentina Marcelino. “Ao mesmo tempo, os jornalistas são todos livres de aderirem a um mecanismo previsto nas leis laborais que é a suspensão de contrato, ou seja, deixarem de trabalhar e poderem aceder a um rendimento que é o subsídio de desemprego”, acrescenta João Pedro Henriques.

Os esforços pelo DN continuam, mas se a mudança não for algo que esteja previsto num futuro próximo o jornal poderá mesmo sair das bancas.



Por: Marta Silva e Pedro Batista | Instituto Politécnico de Leiria
Fotografia: Letícia Oliveira | Universidade do Minho