Deontologia é um dos pilares do jornalismo
Combater alguns dos problemas vivenciados atualmente no jornalismo foi o mote para a apresentação de diversas moções, que vão ser votadas no último dia do 5.º Congresso dos Jornalistas.
Uma das moções está relacionada com a ética e a deontologia, apresentada pela ex-presidente do Sindicato de Jornalistas, intitulada “Por um jornalismo ético – pelo sim e pelo não.”
“A deontologia é o fundamento do jornalismo, a deontologia tem de lá estar”, afirmou Sofia Branco. Neste sentido, e tendo em conta as evidentes pressões comerciais e financeiras enfrentadas no setor, Sofia Branco refere que “é muito importante olhar para dentro. Há obviamente muitas questões que se relacionam com o enquadramento empresarial, conjuntural e estrutural, há aqui problemas estruturais, de financiamento, modelo de negócio, coisas que, obviamente, atrapalham muito o jornalismo hoje em dia, que de facto está em crise, mas é importante que isto não nos leve a olhar só para fora”.
Quanto à responsabilidade “também é nossa, coisas que nós deixamos que aconteçam todos os dias e são da responsabilidade individual de cada jornalista. E nós não podemos descartar isso,
temos de falar sobre isso aqui. Isto é um congresso de jornalistas e temos de conseguir falar disso sem tabus”.
A antiga presidente do Sindicato dos Jornalistas explica ainda que decidiu apresentar esta moção no seguimento de uma comunicação que expôs no segundo dia do evento e confessa que a perspetiva como um “desafio”, uma vez que não sabe se será aprovada.
Já Orlando César, jornalista e formador profissional no Cenjor, redigiu a moção “Sobre ecossistema dos media e da deontologia”. Refere que “a deontologia é aquilo que distingue a profissão de jornalista. Muita gente escreve. A deontologia atribui os direitos e os deveres específicos para transformar esta forma de escrita, o jornalismo, numa forma de escrita com características específicas que remetem para as questões do confrontar posições, não ser um discurso enviesado”, defendendo que “haja a possibilidade de haver uma representação mais igualitária da sociedade relativamente às posições que se colocam e às ideias que existam na sociedade”.
Acerca dos constrangimentos que têm vindo a proliferar e consequentemente a serem uma possível ameaça para o setor, de que são exemplo as redes sociais, Orlando César, considera que estas “são um problema e são uma vantagem porque cada um de nós pode dizer coisas nas redes sociais, não é comparável, nem tem nada a ver com o jornalismo. Os jornalistas utilizarem as redes sociais para exprimir opiniões ou para transmitir notícias terão necessariamente que continuar a cumprir os princípios do jornalismo”.
O Global Media é cada vez mais um grande foco de atenção na atualidade e, segundo o presidente do conselho deontológico, João Paulo Meneses, “quanto mais complicado é o cenário, mais desafios deontológicos existem”. Quando questionado acerca deste caso específico, João Paulo Meneses mostra-se preocupado com a atual situação do grupo. “Se as pessoas não têm independência e se os meios de comunicação não são sólidos nem viáveis, as pressões que se fazem sentir sobre os jornalistas podem ameaçar a qualidade daquilo que eles fazem, levando a um jornalismo de pior qualidade”, afirmou.
João Meneses mostra-se também reticente em relação às redes sociais. “As redes sociais são um problema grave, em termos da deontologia operacional, ou seja, os jornalistas que utilizam as informações sem as verificar, os jornalistas que vão para as redes sociais e insultam ou elogiam pessoas que a seguir vão entrevistar, ou seja, existe um problema relacionado com a deontologia e as redes sociais, e é preciso encontrar uma solução para isso”, declarou o presidente do conselho de deontológico. No que toca à inteligência artificial, João Paulo Meneses afirma que “ainda é muito recente” para se perceber de que forma é que esta vai afetar o jornalismo, o que o leva a concluir que “possa também vir a ser um problema”.