Apesar dos aspetos negativos, o amor dos jornalistas pela profissão prevalece

Apesar dos aspetos negativos, o amor dos jornalistas pela profissão prevalece

“Temos jornalistas que não conseguem sustentar-se com jornalismo e que são forçados a ter um segundo emprego para terem condições financeiras”. Estes profissionais “são pessoas precárias à força e não por escolha própria”. Estas foram duas das ideias que Alexandra Figueira deixou, no 5º Congresso dos Jornalistas, durante a apresentação dos resultados preliminares do estudo “Precariedade no Jornalismo”.

Da responsabilidade da Rede Universitária de Estudos sobre Jornalistas (RIEJ), um grupo de investigadores universitários que se dedica a estudar o impacto da precariedade na qualidade do jornalismo, o estudo inclui desde jornalistas “muitos jovens” até profissionais com “décadas de experiência”.

De acordo com Alexandra Figueira, diretora do Mestrado em Comunicação, Marketing e Media da Universidade Lusófona (Porto), estas são pessoas que nunca sabem quanto vão ganhar: “Se publicam ganham, se não publicam não ganham”. Para além disso, estes jornalistas trabalham “em circunstâncias em que os salários são curtos, mas os horários são longos”.

O estudo revela que “quem trabalha nestas situações precárias nem sequer um horário indicativo tem. Existe a expetativa de que trabalhem ou estejam disponíveis sete dias por semana, 24 horas por dia”. Tudo isto tira-lhes “a capacidade para organizarem a sua vida pessoal e familiar”, diz Alexandra Figueira. 

Os jornalistas em situação precária “não têm direito a folgas, não têm direito a férias”. Por vezes tiram uma semana ou duas, “mas obviamente que não remuneradas”. “Trabalham em esforço constante, com prejuízo para a família.”

No entanto, a motivação e vontade de trabalhar neste ramo não desaparece. Segundo a coordenadora do estudo, muitos dos entrevistados admitiram que várias vezes lhes perguntam por que é que continuam a ser jornalistas “apesar disto tudo”. As respostas são muitas: “’Porque me faz feliz’, ‘porque é isto que me dá gozo’, ‘porque é a ambição da minha vida’, ‘porque sempre sonhei e continuo a sonhar em ser jornalista’”, conta Alexandra Figueira. “Tivemos pessoas a falar-nos no jornalismo como ato de resistência”.  

Para a investigadora, a apresentação dos resultados preliminares deste estudo pode reforçar “na sociedade e na política portuguesa a convicção de que são necessárias soluções para o jornalismo”. Por outro lado, defende, as condições de trabalho para o exercício do jornalismo “estão longe do ideal para que possa ser feito um trabalho com toda a qualidade exigida”.

Por: Verónica Freitas | Instituto Politécnico de Tomar e Luciana Matos | Universidade do Minho
Fotografia: Íris Moreno | Instituto Politécnico de Tomar