Inês Serra Lopes: Alma, precisa-se
A crise dos media incorpora uma crise, menor mas menos visível: a crise do próprio jornalismo. Essa revela-se no crescente divórcio entre os cidadãos, sobretudo os jovens adultos, e o jornalismo. Quais são as razões deste divórcio?
Sim, estão diagnosticadas várias contribuições:
— as vendas dos jornais e a audiência de rádios e televisões são cada vez menores. Assustadoramente menores;
— essa torrente diminuiu exponencialmente o financiamento dos media: não há dinheiro para salários, os vínculos são precários ou inexistentes,
— a pressão dos processos judiciais, “quase-censura”, exercida por muitos Tribunais;
— a necessidade de não desagradar aos grandes anunciantes, para não cortar ops já reduzidos budgets de publicidade;
— o mundo da “galáxia internet”, com as suas redes sociais, plataformas, jogos e “fake news”;
— os jovens cada vez lêm menos e têm menor capacidade de concentração;
E várias outras. Porque as há.
Falta, todavia, diagnosticarmos o que está mal connosco: e o que está mal é que os jornalistas, por várias razões, normalmente não fazem o seu trabalho com alma. Não imprimem nele as suas emoções. As escolas têm produzido gerações de jornalistas que são “sérios” e maçadores nos seus trabalhos e, porém, muitas vezes incrivelmente interessantes na sua vida social online — não se trata da sua vida privada, mas sim da sua vida pública (mas não profissional).
Rápida abordagem de alguns “remédios” para atacar o problema:
— contrariar a tendência de “normalização” do jornalismo e dos jornalistas;
— maior preocupação com o ângulo a utilizar;
— personificação maior das histórias que contamos;
— permitir que as emoções possam entrar em jogo;
E SOBRETUDO EXERCER A LIBERDADE QUE TEM DE CARACTERIZAR O BOM JORNALISMO