“O Jornalismo precisa de literacia para os media?”

“O Jornalismo precisa de literacia para os media?”

No último congresso dos Jornalistas, em 2017, a literacia mediática surgiu numa das moções apresentadas. No terceiro dia do 5ªCongresso dos Jornalistas, esteve presente no painel “O jornalismo precisa de literacia para os Media?”,  que contou com a participação de Sofia Branco, diretora da Associação Literacia para os Media e Jornalismo, Vítor Tomé, perito internacional para a educação e cidadania, do Conselho da Europa, Maria José Brites, docente da Universidade Lusófona e coordenadora do projeto de investigação YouNDigital, e Ramón Salverría, professor da Universidade de Navarra e investigador principal do Iberifier, consórcio ibérico que envolve 12 universidades, cinco organizações de verificação e agências de notícias, bem como seis centros de investigação.

O painel procurou discutir a literacia para os media e o jornalismo, dando ênfase à ideia de simbiose entre os dois conceitos. Ramón Salverría defendeu que a literacia para os media é importante para a credibilidade dos jornalistas e para a forma como o seu trabalho é ou não valorizado pela sociedade. “Os cidadãos são beneficiados, uma vez que têm uma melhor perceção das ameaças da desinformação”, justificou. O professor sublinhou que “a literacia mediática serve para demonstrar a dificuldade do trabalho jornalístico, uma vez que não é fácil aceder a informação real”.

Vítor Tomé afirmou que a “literacia dos media não é a solução para a desinformação e não resolve os problemas, mas precisa do jornalismo, assim como o jornalismo necessita da literacia dos media“.  O investigador mostrou-se convicto que “só se consegue combater a desinformação com o jornalismo e só é possível realizar ações de literacia dos media em democracia”. E adiantou: “O jornalismo necessita de uma literacia dos media em que os jornalistas reconhecem os seus resultados, são entendedores da mesma e onde se forma para o empoderamento.” Apesar da forte aposta da comunidade científica na investigação desta área e das iniciativas de formação que têm vindo a ser desenvolvidas nas escolas e comunidade civil, Vítor Tomé considera que “ainda há muito para fazer”. “É precisa uma literacia dos media que funcione, pois esta não funciona”. E uma das propostas para que assim seja é “seguir um modelo de formação com jornalistas”.

Maria José Brites avançou quais são os números concretos do inquérito que realizou a 1362 jovens entre os 15 e os 24 anos, no âmbito do estudo “YouNDigital”. Uma das principais conclusões do estudo é que 34,1% dos jovens inquiridos consideram as notícias aborrecidas. No entanto, a investigadora deu a conhecer outros projetos em que esteve envolvida e demonstrou que é possível convencer os jovens da importância do jornalismo até com atividades práticas, transformando-o “numa ferramenta educativa”.

No painel, foi também transversal a todos os oradores a ideia de que “o objetivo não é o modelo de negócio, mas sim o caminho para o objetivo”, como proferiu Ramón Salverría. Sofia Branco afirmou que o financiamento, tantas vezes apontado como a causa para a falta de mais iniciativas, “é importante, mas não principal”.

Por: Gonçalo da Silva Amaral | Nova FCSH
Fotografia: Diana Cunha | Universidade Lusófona